All official European Union website addresses are in the europa.eu domain.
See all EU institutions and bodiesFaça algo para o nosso planeta, imprima esta página somente se necessário. Mesmo uma pequena ação pode fazer uma enorme diferença quando milhões de pessoas fazem isso!
Article
Em 2007, um grupo bastante invulgar de náufragos deu à costa no norte da França. Era constituído por patinhos de borracha e acabava de concluir uma viagem épica com 15 anos de duração, iniciada em janeiro de 1992, data em que um navio que viajava entre Hong Kong e os Estados Unidos perdeu parte da carga durante uma tempestade. Um dos contentores caídos ao mar continha 28 800 brinquedos, alguns dos quais tinham aparecido anos antes na costa australiana e na costa leste dos Estados Unidos. Outros atravessaram o Estreito de Bering e o Oceano Ártico, tendo chegado à Gronelândia, ao Reino Unido e à Nova Escócia.
Os patinhos de borracha não são a única forma de lixo fabricado pelo homem que anda à deriva nos nossos mares. O lixo marinho é composto por materiais sólidos fabricados ou transformados (por exemplo, plástico, vidro, metal e madeira), que vão parar ao ambiente marinho de uma forma ou de outra.
Cada ano, aproximadamente 10 milhões de toneladas de lixo acabam nos mares e oceanos do planeta. Os plásticos, e muito em especial os resíduos de embalagens de plástico, como garrafas de bebidas e sacos não reutilizáveis, são de longe o principal tipo de detrito encontrado no ambiente marinho. E a lista continua: redes de pesca estragadas, cordas, pensos higiénicos, tampões, cotonetes, preservativos, pontas de cigarro, isqueiros descartáveis, etc.
A produção em massa de plásticos começou na década de 1950 e aumentou exponencialmente de 1,5 milhões de toneladas por ano até ao atual nível de 280 milhões de toneladas anuais. Cerca de um terço da produção atual é constituído por embalagens descartáveis que são deitadas fora aproximadamente um ano após terem sido produzidas.
Ao contrário dos materiais orgânicos, o plástico nunca «desaparece» na natureza e acumula-se no ambiente, principalmente nos oceanos. A luz do sol, a água salgada e as ondas fragmentam os plásticos em pedaços cada vez mais pequenos. Uma fralda descartável ou uma garrafa de plástico podem levar cerca de 500 anos a desagregar se em fragmentos microscópicos. Mas nem todos os microplásticos resultam do processo de fragmentação. Alguns produtos que consumimos, como os dentífricos, os cosméticos e os produtos de higiene pessoal, também contêm microplásticos.
As correntes marítimas associadas aos ventos e à rotação da Terra aglomeram esses fragmentos, alguns dos quais com apenas alguns mícrones (um milionésimo de metro), e criam grandes manchas em superfícies denominadas giros. Dependendo da dimensão dos fragmentos, esses aglomerados podem assemelhar-se a uma espécie de «sopa de plástico» transparente. Os giros são fluidos e mudam continuamente de tamanho e de forma. Estima-se que o maior e mais estudado, o Giro do Pacífico Norte, tenha arrastado 3,5 milhões de toneladas de lixo, afetando uma área equivalente ao dobro da superfície dos Estados Unidos. Há outros cinco grandes redemoinhos nos nossos oceanos onde os resíduos também estão a acumular-se, incluindo no Atlântico.
Alguns fragmentos depositam-se nas praias e misturam-se com a areia até nas regiões mais remotas do planeta. Outros são incorporados na cadeia alimentar.
Segundo algumas estimativas, cerca de 80 % dos detritos encontrados no ambiente marinho têm origem em atividades realizadas em terra. A origem do lixo marinho não está necessariamente limitada às atividades humanas localizadas no litoral. Mesmo quando é depositado em terra, os rios, as inundações e o vento transportam o lixo para o mar. As atividades piscatórias, o transporte marítimo e as instalações offshore, como as plataformas petrolíferas, e o sistema de esgotos são responsáveis pelo restante.
A origem do lixo marinho apresenta variações regionais. Nos mares Mediterrâneo, Báltico e Negro, as atividades terrestres produzem a maior parte do lixo marinho; no mar do Norte, porém, as atividades marítimas contribuem para gerar uma quantidade igualmente significativa do mesmo.
É difícil calcular com precisão os impactes produzidos pelo lixo marinho. Todavia, há dois efeitos negativos fundamentais para a fauna marinha: a ingestão e o enredamento.
Uma investigação realizada pelo Algalita, um instituto independente de investigação marinha sedeado na Califórnia, concluiu em 2004 que as amostras de água do mar continham seis vezes mais plástico do que plâncton.
Em virtude da sua dimensão e prevalência, os animais marinhos e as aves marinhas confundem o lixo marinho com alimento. Mais de 40 % das espécies de baleias, golfinhos e toninhas atualmente existentes, todas as espécies de tartarugas marinhas e cerca de 36 % das espécies de aves marinhas ingeriram lixo marinho. Essa ingestão não se limita a um ou dois indivíduos, afetando cardumes de peixes e bandos de aves marinhas. Por exemplo, mais de 90 % dos fulmares que apareceram mortos em praias do mar do Norte tinham plástico no estômago.
Um estômago cheio de plástico indigerível pode impedir o animal de se alimentar, levando-o a morrer de fome. As substâncias químicas presentes nos plásticos também podem atuar como venenos e, dependendo da dose, podem enfraquecer o animal de forma permanente ou matá-lo.
Os pedaços de plástico de maior dimensão também constituem uma ameaça para os animais marinhos. Muitas espécies, nomeadamente focas, golfinhos e tartarugas marinhas, podem enredar-se nos detritos de plástico, bem como nas redes de pesca e nas linhas perdidas no mar. A maior parte dos animais que ficam enredados não sobrevive, visto que não conseguem subir à superfície das águas para respirar, fugir dos predadores e alimentar-se.
O lixo marinho é um problema à escala mundial, sendo difícil recolher dados fiáveis. As correntes e os ventos fazem circular os pedaços visíveis, o que pode levar a que o mesmo detrito seja contabilizado mais de uma vez. Além disso, pensa-se que apenas uma pequena parte do lixo marinho esteja a flutuar ou dê à costa. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), apenas 15 % dos destroços marinhos flutuam à superfície do mar; outros 15 % permanecem na coluna de água e 70 % estão depositados no fundo do mar.
A parte «invisível» dos destroços continua a afetar a saúde global do ambiente marinho. Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 640 000 toneladas de artes de pesca sejam perdidas, abandonadas ou deitadas fora. Estas «redes fantasma» continuam a capturar peixes e outros animais marinhos ao longo de anos e décadas.
Além disso, algumas das espécies de peixes que ingerem plásticos são uma presença regular no nosso prato. Ao consumir peixe e marisco exposto ao plástico e aos produtos químicos petrolíferos nele contidos, a saúde humana também é posta em risco, mas os impactes para a saúde humana não são inteiramente conhecidos.
Mais de 40 % da população da UE vive nas regiões costeiras. Para além dos seus custos ambientais, o lixo marinho também tem custos socioeconómicos, afetando sobretudo as comunidades costeiras. Um litoral limpo é essencial para o turismo de praia. Em média, são encontrados 712 elementos de lixo numa extensão de 100 m de praia na costa atlântica. E, se não forem tomadas medidas, o lixo marinho fica acumulado na praia. Para tornarem as suas estâncias balneares mais atrativas para os turistas, muitas comunidades e empresas têm de limpar as praias antes do início da estação estival.
Não existem estimativas globais do custo total do lixo marinho para a sociedade. Do mesmo modo, é difícil estimar os prejuízos causados à economia local pelo facto de os potenciais visitantes optarem por outros destinos. Mas há exemplos dos custos concretos das atividades de limpeza, quantificados em termos monetários. No Reino Unido, os municípios gastam aproximadamente 18 milhões de EUR por ano na limpeza das praias.
As atividades de limpeza podem ajudar a recolher os pedaços maiores e a melhorar a paisagem, mas o que acontece aos pedaços de menor dimensão? Segundo a Kommunenes Internasjonale Miljøorganisasjon (KIMO), uma organização internacional que agrega as autoridades locais em torno das questões relativas à poluição marinha, cerca de 10 % (do peso) do material que as marés deixam na linha de água é constituído por plásticos. Devido à sua pequena dimensão, muitas vezes é impossível distingui-los da areia.
Embora o lixo marinho seja apenas uma das pressões que fazem sentir-se sobre o equilíbrio do ambiente marinho, constitui uma preocupação cada vez maior. A acumulação e a longa duração dos plásticos na natureza complicam ainda mais o problema. O lixo marinho é um problema transfronteiriço: quando chega ao mar, não pertence a ninguém. Este facto torna a sua gestão difícil e muito dependente da existência de uma boa colaboração regional e internacional.
Alguma legislação da União Europeia incide diretamente sobre as questões marinhas. Por exemplo, a Diretiva-Quadro «Estratégia Marinha» da UE, adotada em 2008, identifica o lixo marinho como um dos domínios de intervenção com vista à obtenção de um bom estado ambiental de todas as águas marinhas até 2020. Dando seguimento a estas diretivas da União e ao compromisso global expresso na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável Rio+20, em 2012, o Sétimo Programa de Ação em matéria de Ambiente da UE (2014-2020) prevê o estabelecimento de um nível de referência e a fixação de uma meta de redução.
À semelhança do que acontece com a gestão dos resíduos em geral, o ponto de partida do combate ao lixo marinho é a prevenção. Como poderemos prevenir a sua produção? Precisamos realmente de sacos de plástico novos de cada vez que vamos às compras? Será possível conceber alguns dos nossos produtos e processos de produção de modo a não conterem nem criarem microplásticos? Claro que sim.
(c) Ani Becheva / EEA Waste•smART
A etapa seguinte é tomar medidas em terra, antes que o lixo chegue aos nossos mares. Para o efeito, a UE tem políticas e legislação destinadas a melhorar a gestão de resíduos, reduzir os resíduos de embalagens e aumentar as taxas de reciclagem (sobretudo de plásticos), melhorar o tratamento das águas residuais e, em geral, utilizar os recursos com mais eficiência. Também existem diretivas para reduzir a poluição proveniente dos navios e dos portos. Melhorar a aplicação das políticas de prevenção e redução de resíduos poderá ter enormes benefícios.
Mas o que fazer ao lixo que já está a poluir os nossos mares e oceanos? Há anos que o lixo marinho tem vindo a acumular-se nos nossos mares. Parte dele afundou-se e depositou-se no fundo, enquanto outras partes vão circulando nas correntes oceânicas. É quase impossível imaginar uma maneira de limpar tudo isto.
Existem várias iniciativas de «pesca de lixo», com navios que recolhem o lixo marinho de forma semelhante à recolha de resíduos urbanos feita em terra. No entanto, os métodos utilizados não permitem recolher lixo de dimensão inferior a um determinado nível, o que continua a deixar o problema dos microplásticos sem solução. Além disso, devido à amplitude do problema e à dimensão dos nossos oceanos, estas iniciativas são demasiado limitadas para que resultem em melhorias concretas.
O mesmo se pode dizer das atividades de limpeza nas praias e costas. Ainda assim, estas iniciativas são uma boa forma de sensibilizar os cidadãos para o problema do lixo marinho e envolvê-los na sua resolução. No final de contas, talvez seja apenas uma questão de número. Quanto maior for o número de voluntários que aderirem a essas atividades, melhores poderemos ser na prevenção.
A Marine LitterWatch
A AEA desenvolveu a Marine LitterWatch, que inclui uma aplicação para monitorizar o lixo marinho nas praias da Europa. A aplicação, disponível a título gratuito, permite às comunidades que limpam as praias recolherem dados que melhorem os nossos conhecimentos sobre o lixo marinho. Permite também aos interessados encontrarem iniciativas de limpeza próximas da sua residência ou criarem a sua própria comunidade de limpeza.
For references, please go to https://www.eea.europa.eu/pt/sinais-da-aea/sinais-2014/em-analise/o-lixo-nos-nossos-mares or scan the QR code.
PDF generated on 2023-03-30 21:07
Engineered by: Equipa Web EEA
Software updated on 12 March 2023 21:56 from version 23.1.28
Software version: EEA Plone KGS 23.3.11
Ações do documento
Compartilhar com os outros