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Tornar a nossa economia mais ecológica

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Article Publicado 2012-06-04 Modificado pela última vez 2023-03-17
Photo: © EEA/John McConnico
A maioria das pessoas recordará 2011 como um ano marcado pela turbulência financeira, pelo terramoto-maremoto-acidente nuclear do Japão, pela ajuda financeira de emergência a países europeus e pelos protestos em massa ligados à «Primavera árabe», ao movimento «Occupy Wall Street» e aos Indignados espanhóis. Poucos se recordarão de que também foi o ano em que os cientistas descobriram mais de 18 000 novas espécies a viver no nosso planeta. Menos ainda conseguirão citar uma espécie que tenha sido declarada extinta.

À primeira vista, pode parecer que o destino das espécies ameaçadas nada tem a ver com a economia. No entanto, com um exame mais atento, começamos a entender as ligações entre as duas questões. A «boa saúde» dos sistemas naturais é uma condição necessária da «boa saúde» dos nossos sistemas social e económico. Alguém pode afirmar que uma sociedade é próspera quando está exposta à poluição do ar e das águas e enfrenta problemas relacionados com a saúde? Do mesmo modo, poderá uma sociedade «funcionar» se uma grande percentagem da população estiver desempregada ou não ganhar o suficiente para subsistir?

Não obstante as lacunas e incertezas na nossa compreensão das coisas, podemos ver que o mundo está a mudar. Ao fim de 10 000 anos de relativa estabilidade, a temperatura média global está a aumentar. Embora as emissões de gases com efeito de estufa da União Europeia (UE) estejam a diminuir, os combustíveis fósseis emitem mais gases com efeito de estufa para a atmosfera do que aqueles que o nosso solo e os nossos oceanos conseguem absorver. Algumas regiões são mais vulneráveis aos potenciais impactes das alterações climáticas e, muitas vezes, trata-se justamente dos países menos preparados para se adaptarem às novas condições do clima.

Com mais de sete mil milhões de habitantes a viver no planeta, os seres humanos têm claramente um papel na condução e aceleração destas alterações. De facto, os nossos atuais níveis de consumo e de produção podem estar a prejudicar o ambiente ao ponto de corrermos o risco de tornar o nosso planeta inabitável para muitas espécies, incluindo a nossa. Muitas pessoas dos países em desenvolvimento aspiram a ter estilos de vida semelhantes aos dos países desenvolvidos, o que poderá exercer uma pressão adicional sobre os nossos sistemas naturais.

Estamos a perder a biodiversidade, a nível mundial, a um ritmo nunca antes visto na nossa história. As taxas de extinção das espécies podem chegar a ser mil vezes superiores à que se verificava no passado, e a destruição de habitats é uma das principais razões.

Apesar de a superfície florestal total ter vindo a crescer na Europa, nas últimas décadas, o mesmo não acontece a nível global. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura estima que sejam anualmente desflorestados 13 milhões de hectares a nível mundial (área aproximadamente equivalente à da Grécia), sendo essas terras convertidas para outras utilizações, nomeadamente pastagens, exploração mineira, agricultura ou urbanização. As florestas não são os únicos ecossistemas ameaçados. Muitos outros habitats naturais estão em risco devido às atividades humanas.

O caminho a seguir: uma economia ecológica e inclusiva

Quando a principal preocupação quotidiana de milhares de milhões de pessoas é pôr comida na mesa e mandar os filhos para a escola, na esperança de um futuro melhor, pode ser quase impossível a muitas delas abandonar as soluções a curto prazo, a menos que lhes sejam oferecidas oportunidades alternativas e melhores…

É evidente que as nossas atividades económicas exigem recursos naturais, mas aquilo que pode ser entendido como um dilema (escolher entre a preservação do ambiente e o desenvolvimento da economia) não passa de uma perspetiva ilusória. A longo prazo, o desenvolvimento económico e social exige uma gestão sustentável dos recursos naturais.

No fim de 2011, uma em cada dez pessoas estava desempregada na União Europeia; no caso dos jovens, o desemprego ultrapassava uma em cada cinco pessoas. O desemprego sujeita as pessoas, as famílias e a sociedade em geral a sérias pressões. Em 2010, quase um quarto da população da União Europeia estava em risco de pobreza ou de exclusão social, sendo as taxas de pobreza a nível mundial ainda mais elevadas.

Os nossos modelos económicos atuais não têm em conta muitos dos benefícios que um ambiente saudável nos proporciona. O produto interno bruto (PIB) — o indicador económico mais utilizado para traduzir o nível de desenvolvimento de um país, o seu nível de vida e a sua situação relativamente a outros países — baseiase no valor dos resultados da atividade económica. Não inclui o preço social e humano que pagamos pelos efeitos secundários dessa atividade, como é o caso da poluição atmosférica. Pelo contrário, os serviços de saúde prestados às pessoas que sofrem de doenças respiratórias são incluídos como um contributo positivo para o PIB.

O desafio é descobrir como podemos reformular os nossos modelos económicos de modo a gerarmos crescimento e melhorarmos a qualidade de vida em todo o planeta, sem prejudicarmos o ambiente e protegendo, simultaneamente, os interesses das gerações futuras. A solução encontrada foi denominada «economia ecológica».

Embora pareça ser um conceito simples, a concretização desta ideia na prática é muito mais complicada. A inovação tecnológica será evidentemente necessária, mas haverá que fazer muitas outras mudanças: na forma como organizamos as empresas, como ordenamos as cidades, como fazemos circular as pessoas e as mercadorias, como vivemos, basicamente.

Traduzindo este conceito em termos empresariais, necessitamos de assegurar uma sustentabilidade a longo prazo em todos os nossos domínios de criação de riqueza: no capital natural, no capital humano, no capital social e no capital industrial, bem como no capital financeiro. O conceito de economia ecológica também poderá ser explicado através destes capitais distintos, mas interligados.

Ao avaliarmos os custos e benefícios das nossas decisões, temos de examinar os impactes em todos os tipos de capital. Os investimentos em estradas e fábricas podem aumentar o nosso capital industrial, mas prejudicar, de facto, a nossa riqueza global, se implicarem a destruição das florestas (parte do nosso capital natural) ou prejuízos para a saúde pública (parte do capital humano).

Oportunidades futuras

Mudar a forma como vivemos, produzimos e consumimos abre, na verdade, um novo mundo de oportunidades. A Sinais 2012 apresenta uma panorâmica da situação atual, exatamente 20 após a Cimeira da Terra realizada em 1992 no Rio de Janeiro, Brasil. Analisa a ligação existente entre a economia e o ambiente e a razão por que necessitamos de tornar a nossa economia mais ecológica. Descreve também, sucintamente, as muitas e variadas oportunidades que estão ao nosso alcance.

Não existe uma solução única que nos ajude a fazer uma transição rápida ou que se adeque a todas as situações. Por exemplo, para além do objetivo global comum de gerir os resíduos eficazmente, a gestão dos resíduos na Gronelândia pode ter de enfrentar no terreno uma realidade totalmente diferente da que existe no Luxemburgo.

O tempo tem um papel decisivo. Hoje, necessitamos de soluções que resolvam os problemas ambientais com a tecnologia existente, sem esquecer que as nossas políticas e decisões empresariais terão de ser continuamente melhoradas e adaptadas para acompanharem o nosso maior conhecimento da evolução ambiental e tecnológica. Contudo, já há muitas soluções à nossa disposição e muitas mais estão a ser preparadas.

Uma questão de escolhas

Copyright: Gülcin KaradenizEm última análise, será uma questão de escolhas: escolhas políticas, das empresas e dos consumidores. Mas como escolher a melhor opção?

Será que dispomos das informações e dos instrumentos de que necessitamos para desenvolver políticas adequadas? Estaremos a tratar esta questão ao nível «correto»? Será que temos os incentivos ou sinais de mercado «certos» para investir em fontes de energia renováveis? Os bens que compramos ostentam as informações ou os rótulos «adequados» para podermos optar pela alternativa mais «ecológica»?

Aquilo que sabemos e o momento em que adquirimos tal conhecimento ajudará as diversas comunidades a fazerem as escolhas mais «acertadas». Em última análise, o conhecimento permitir-nos-á descobrir as nossas próprias soluções e criar novas oportunidades partilhando-as com outras pessoas.

Professora Jacqueline McGlade, Directora Executiva

Para mais informações

Sobre os debates mundiais e europeus sobre a economia ecológica, ver unep.org/greeneconomy e www.beyond-gdp.eu

Ver também o novo relatório anual sobre os indicadores da AEA. A edição de 2012 é dedicada à economia ecológica

• Sobre o quadro dos cinco capitais, ver « Forum for the Future »

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